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Dilemas de um ponto


Dilemas de um ponto.


Nunca gostou de ser ponto: taxado de destruidor de corações, estraga prazeres. Queria mesmo era ser vírgula, que intercala e organiza a vida, e vírgula virou. Passou a detesta-la, pois onde quer que fosse, diziam que ela só queria aparecer. O que ela queria mesmo era entrar na conversa para organizá-la, mas taxavam-na intrometida e fechavam a roda. Começou a ver que a vida da vírgula não era tão simples e perfeita quanto jugara ser, olhando de fora. Então achou que deveria ser ponto e vírgula, e ponto e vírgula virou. Mas todo mundo o linchou, porque ele nunca sabia onde e quando deveria estar. Quando se envolvia, não era sua vez. E quando deixava sua vez passar, gritavam por ele! Sentiu-se incompetente. Tentou ser dois pontos e reticências também, mas aí sofreu com a solidão e ausência de texto, posto que raramente utilizam estes dois elementos. Decidiu que seria o que nasceu para ser: apenas um ponto. Nem mais, nem menos. Era o que sabia fazer e fazia muito bem feito, diga-se de passagem. Até passou a ver a utilidade que tinha durante todo o texto, para não o deixar fugir do contexto. Desenvolveu o amor próprio e começou a dar-se o devido valor, sem pestanejar. Podia até ser meio carrasco às vezes, é verdade, mas finalmente compreendeu-se um visionário. Afinal, sempre é necessário saber a hora de parar.